“Por
entre aclamações Deus se elevou, o Senhor subiu ao toque da trombeta” (Sl. 46)
A festa da Ascensão do Senhor e sua solenidade
remontam a antiguidade greco-romana, na tradição da chamada celebração do
triunfo. Nesta, o imperador romano reunia uma multidão e lhe impunha algumas
condições: a partida para a campanha contra o inimigo, a luta, a vitória e o
retorno. Em seguida, preparava uma festa com a participação de todo o povo, nos
jogos e na partilha dos alimentos. Marchava-se pelo caminho sagrado e passava
pelo arco do triunfo, no qual o general vitorioso recebia a coroa e a palma.
Assim,
vista sob o prisma da mentalidade cristã, vê-se que o Filho de Deus, deixou o
seio do Pai e veio a este mundo. Deu combate ao inimigo, o pecado e a morte. Em
seguida, vitorioso, volta para junto do Pai e distribui os dons aos homens. Por
isso, celebra-se igualmente a vitória sobre a morte e o triunfo, a glorificação
do Pai no Filho, na solenidade da Ascensão do Senhor, quarenta dias após a
Páscoa. No Brasil, como não é feriado no quadragésimo dia após a páscoa,
celebra-se esta solenidade no 7o Domingo da Páscoa. Nela, já insere-se e
prepara-se para o grande mistério de Pentecostes.
E,
eis que o mistério pascal se plenifica. Ao celebrar a festa da Ascensão do
Senhor, em primeiro lugar recorda-se a subida gloriosa de Cristo ao céu onde
“está sentado à direita do Pai”. Jesus cumpriu a obra redentora pela qual viera
a este mundo, oferecendo um sacrifício de adoração, louvor e ação de graças a
Deus, por todos os homens. Na cruz, e, sobretudo, na ressurreição tornou todos
os homens filhos e filhas de Deus. Em seguida, apareceu várias vezes, cumprindo
a promessa que havia feito aos discípulos e falando-lhes do Reino de Deus.
Mas
é chegado o momento de voltar para o Pai! A promessa feita por Jesus: “Não vos
deixarei órfãos. Eu virei a vós” (Jo 14, 18), parece ter sido esquecida, paira
o silêncio diante da partida de Cristo. É como se a luz de Cristo não fosse
mais brilhar! Como se Jesus estivesse totalmente ausente! A Igreja se encontra
sozinha, como que passando por sua viuvez! Se entendida a Ascensão numa maneira
literal.
Mas,
ao entendê-la no sentido pleno, observamos que ocorre justamente o contrário.
Neste dia é intensificada a presença do ressuscitado, como descreve São Paulo
aos Efésios: “O que desceu é também o que subiu acima de todos os céus, a fim de
plenificar todas as coisas”. Portanto, Cristo subiu aos céus para encher tudo
com a Luz de sua presença. Por isso a liturgia deste domingo, mostra
primeiramente a autoridade de Cristo.
Os
chefes, ou os donos deste mundo haviam abandonado a Jesus, mas Deus o exaltou.
Comprovam isto, os relatos das leituras, tanto na primeira leitura, onde Lucas
escreve que: “Jesus elevou-se à vista deles, e uma nuvem o ocultou a seus
olhos” (At 1-11). E, em seguida, Paulo na segunda leitura, afirma que “Deus
ressuscitou a Jesus e tudo pôs debaixo de seus pés e o pôs acima de tudo, como
Cabeça da Igreja, que é o seu corpo” (Ef 1, 17-23). E Jesus afirma solenemente
no Evangelho: “Toda autoridade me foi dada no céu e sobre a terra” (Mt 28,
16-20).
Outra
experiência que emerge deste dia, relembra que ao final os abençoou, supondo
uma missão: os enviou. Não a uma região determinada, mas a todos os povos: “Ide
e fazei discípulos meus todos os povos, batizando-os em nome do Pai e do Filho
e do Espírito Santo e ensinando-os a observar tudo o que eu vos ordenei” (Mt
28, 19). Inaugura-se, então, o tempo de anunciar Jesus como Senhor de todos os
povos. Não como o ditador, mas sim com poder daquele que tornou-se servo. Por
isso, a exigência para que os discípulos o imitem em sua humildade.
O
verdadeiro sentido da ascensão é uma verdade de fé, apenas acessível à fé de
cada ser humano que se deixa encantar pela novidade de Cristo, na oração, na
meditação e na leitura dos acontecimentos de sua vida. Jesus está vivo, A
extensão da sua influência é infinita, mesmo não tendo mais uma presença
localizada, Ele está presente agindo. Onde existe amor, a busca da verdade, a
luta pela justiça, o respeito e a promoção do homem, está Cristo atuante na
história. A verdadeira ascensão de Cristo é a ascensão de todos os homens que
Ele inspira e leva a construir uma terra nova, onde habite a justiça e todos se
amem mutuamente.
Por
isso, na rememoração da subida de Cristo, após quarenta dias da ressurreição,
os cristãos se colocam como herdeiros e destinatários da promessa de Cristo, na
espera de sua vinda definitiva. Por isso, incessantemente pedimos que, o Cristo
que penetrou no mais alto céu, abrindo o caminho para a nossa ascensão,
manifeste a nós, como aos discípulos após a ressurreição, aparecendo em eterna
benevolência, e como cremos que está sentado com o Pai em sua glória,
possibilite a nós experimentarmos a alegria de tê-lo conosco até o fim dos
tempos, conforme a sua promessa: “E eis que estou convosco todos os dias, até a
consumação dos séculos” (Mt 28, 20b)!
Assim
Seja!
Reginaldo Pires Amâncio
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